Divina Comédia Digital
Sexo sem compromisso, prazer sem cobrança,
orgasmo sem dor. A proposta é perfeita, a tática também. Um direct,
poucas palavras, pega o watts; comida preferida? série que mais gosta?
posição preferida? topa oral? ótimo! anal? nunca fez?
E em em poucas palavras: hora do figth! Comida boa é comida fresca,
prazer também.
Três noites em chamas, uma semana pegando fogo, dez dias quente, e na
segunda semana o papo morno. Ausência, tarefas misteriosas que roubam o
tempo de alguém que não tempo para você. Contatinho on, tato off.
O apelido se deteriora volta a ser um nome, o nome se decompõe e passa a
ser um número é o número vira um pó pálido, uma sobra sem tato, um
contato sem foto. E vamos empilhando túmulos de prazeres deletados, que
nos descartaram também.
Partimos para a próxima opção, aguardamos o próximo match e seguimos a
sina triste da nossa divina comédia digital, entre paraíso do prazer,
purgatório da indiferença e o inferno do abandono.
O coração, palco de amores é comprado pelo prazer e se torna um motel de
relações impessoais. Um pit stop sexual! Onde alguém vem, mete o cano do
prazer no buraco da carência e abastece a reserva afetiva até perceber
que: “não está pronto para um relacionamento.”
E terminamos sem nunca termos começado, e sofremos sem nunca ter amado.
Perdemos o que nunca foi nosso. No mundo do prazer o amor é uma piada.
Em tempos de contatinho, ficou difícil amar com tato.
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